sexta-feira, 26 de agosto de 2016

"Sala de Expurgo, Não Abra!!"

Este era o aviso na estreita porta ao lado de uma porta de vidro dupla escancarada. No corredor, o amarelado da indiferença e da impotência sufocava o ambiente. Porém, o abafado maior era proveniente da porta aberta, ela despejava no ar o odor do abandono. 

Ao adentrar, a parca luz branca do ambiente era embaçada pelo retrato das dores. Instintivamente prendi o fôlego para não absorver a indiferença dos que transitam diariamente impotentes. Impedidos de se fecharem, meus olhos registraram a angústia e a dor do abandono naqueles olhares vagos, fitando o nada, tomados por dores tão agudas quanto as físicas. Vidas amontoadas, praticamente uma por cima da outra, estacionadas nos corredores da eterna espera. Largadas como expurgos, porém, às portas abertas.



Eis um retrato "3x4" da saúde pública no Hospital Getúlio Vargas, no Recife. Era uma manhã rotineira de segunda-feira.

23/08/2016

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