Este era o aviso na estreita porta ao lado de uma porta de
vidro dupla escancarada. No corredor, o amarelado da indiferença e da
impotência sufocava o ambiente. Porém, o abafado maior era proveniente da porta
aberta, ela despejava no ar o odor do abandono.
Ao adentrar, a parca luz branca
do ambiente era embaçada pelo retrato das dores. Instintivamente prendi o
fôlego para não absorver a indiferença dos que transitam diariamente impotentes.
Impedidos de se fecharem, meus olhos registraram a angústia e a dor do abandono
naqueles olhares vagos, fitando o nada, tomados por dores tão agudas quanto as
físicas. Vidas amontoadas, praticamente uma por cima da outra, estacionadas nos
corredores da eterna espera. Largadas como expurgos, porém, às portas abertas.
Eis um retrato "3x4" da saúde pública no Hospital Getúlio
Vargas, no Recife. Era uma manhã rotineira de segunda-feira.
23/08/2016