quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Fahrenheit 451 - Ray Bradbury

Fahrenheit 451 - Ray Bradbury

Em 1953, após a II Guerra Mundial e em plena Guerra Fria, Ray Bradbury (1920-2012) escreveu Fahrenheit 451. Clássico da literatura mundial, ultrapassa os limites da ficção científica. É uma obra política, uma distopia. Fala do futuro denunciando o presente.


"Não só uma crítica à repressão política, mas também à superficialidade da era da imagem [...]" (Manuela da Costa Pinto, orelhas do livro)
215 páginas
Editora: Biblioteca Azul 




Os livros foram proibidos de circulação, quem for pego com livros e denunciado aos bombeiros terá o seu acervo, e até a casa, queimados. O objetivo é acabar com as angústias e divergências de pensamentos. Os livros trazem incômodo, faz as pessoas pensarem e se questionarem. Neste mundo distópico, descrito ainda na década de 1950 - quando a internet dos dias atuais nem era sonhada - o comportamento "normal" era não ter tempo para pensar ou falar consigo mesmo.

Qual o propósito da concentração? Por que pensar? As coisas estão perfeitas e programadas para proporcionar a felicidade... Em casa as telas transmitiam programação 24h onde os telespectadores interagiam com os apresentadores, no metrô o som alto com propagandas repetitivas não deixava espaço para o indivíduo ouvir sua voz interior, sua consciência. Um bombardeio de mídias e distrações com a justificativa de tornar as pessoas "felizes".

E, quando não estão plenamente felizes, a fuga farmacêutica está à disposição, o remédio para "ficar feliz" é a solução contra a angústia. Para embalar o sono não pode faltar o sonífero, com tamanha distração o cérebro deve ficar hiperativo para conseguir relaxar quando o corpo está cansado. Essa descrição ficcional está mais contemporânea do que nunca! Bombardeadas com um volume imenso de distrações e informações que passam rapidamente na tela e logo são esquecidas, muitas crianças são expostas desde a mais tenra idade a esse caos. E, quando precisam se concentrar e focar na vida real logo são diagnosticadas com déficit de atenção. Não tarda, medicamentos serão receitados para "acalmar" e facilitar a concentração. 

Para que ler e pensar? Se angustiar com os questionamentos naturalmente provenientes do novo conhecimento que se ajunta ao background prévio do leitor? Não seria melhor viver a vida no modo automático? Os livros representam ideias divergentes que são disponibilizadas para o incauto, desavisado, ser sugestionado a pensar diferente e questionar os paradigmas já consolidados. Os livros incomodam os leitores e os que não admitem pensamentos diferente, ou tenham outras opiniões. 

Como diria Rubem Alves: "Ostra feliz não faz pérola!". Sem os incômodos causados pela areia e impurezas que adentram a ostra não seria possível gerar pérolas. De modo similar, sem os incômodos e questionamentos causados por ideias divergentes, pensamentos diferentes que nos fazem pensar, falar com nossa consciência, não seria possível criar novas ideias, mudar, inovar, aprimorar conhecimentos em formação. 

Se pensarmos, fazendo um paralelo com os dias em que vivemos, aproximadamente 65 anos depois do livro escrito, 2015, esse ambiente de distração é muito contemporâneo. Temos mais que telas gigantes que interagem com o usuário. Temos uma tecnologia muito mais complexa e elaborada, o ambiente Web (principalmente o facebook) proporciona um entretenimento contínuo que deixa os telespectadores surfando na superfície de uma imensidão de conteúdos.





Lido em 23/12/2015

ps.
Fahrenheit 451 foi adaptado ao cinema em 1966 pelo diretor François Truffaut. (AdoroCinema) (IMDb)

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